Aquela casa – avaliação envolve sentimento – parte II

Ao sair da casa de Sofia, eu refleti bastante. Durante a vistoria, enquanto me contava sua história, fiquei imaginando tudo o que ela sonhou para a construção daquela casa e tudo o que realmente aconteceu no decorrer da sua vida. Isso mostra o quanto somos vulneráveis neste mundo: planejamos algo e de repente somos pegos de surpresa em certas situações.

Eu terminei de fotografar a parte externa, da rua e da região, e fui embora já planejando como faria a avaliação do imóvel. Sempre é assim: em cada avaliação, procuro chegar a um ideal para que o laudo fique o melhor possível. A escolha certa do método, a maneira de redigir, a fundamentação, os argumentos, as amostras, os cálculos, enfim, tudo é pensado com muito cuidado para que o valor do imóvel seja o mais próximo possível da realidade do mercado.

Alguns dias depois, no prazo da proposta, entreguei o laudo à cliente. Ela me pediu que explicasse o laudo, item por item, e assim o fiz. Porém, tive certa dificuldade de concentração, pois Sofia tinha uma cachorrinha. Tatau queria brincar comigo! Eu, sentada na cadeira, com o laudo sobre a mesa, e a danadinha ficava me provocando: colocava as patinhas na minha perna, latia, saía, se agachava, corria e voltava. Quando Sofia fazia menção de pegá-la, Tatau disparava, mas em minutos voltava, era como uma criança querendo atenção.

E eu ali meio sem saber o que fazer, se brincava com a cachorrinha ou se a ignorava e falava com Sofia. Quando eu olhava, lá estava Tatau me desafiando e eu me segurando para não rir, porque realmente ela era engraçada.

Nós Peritos avaliadores passamos por situações inusitadas. Não sabemos o que nos espera no dia seguinte. É um cliente falante, um cliente quieto; é um imóvel comum, outro bem diferente; dificuldade para fazer fotos, por vezes, em 20 minutos, conseguimos fotografar, mas pode acontecer de demorarmos horas a depender da situação do imóvel.

Ao entregar o laudo, muitas vezes, o cliente só recebe e pronto. Porém, o cliente pode querer a explicação de todo procedimento e, às vezes, além disso, tem uma cachorrinha que quer atenção e não nos deixa apresentar o laudo.

São circunstâncias com as quais precisamos nos acostumar, tendo sensibilidade para entender que não existe um ‘modelo pronto’. Em cada contratação, podemos encontrar situações improváveis e isso deve nos motivar a estudar, ser curiosos e compreensíveis.

Neste caso, eu tive que aguardar até a cachorrinha se acalmar. Aquela bolinha de pelo tentava o tempo todo me distrair, querendo atenção. Mas não tive pressa, não quis atropelar o processo. Por isso, é importante também não agendar trabalhos em horários apertados, pois nunca sabemos o tempo real para um atendimento. Por fim, Sofia levou Tatau para o quintal; assim pudemos conversar, e pude mostrar todo o laudo e explicar cada detalhe.

Silmara Gottardi

Se você perdeu a primeira parte desta história, acesse aqui e confira!

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