Um passado cravado na memória –  vida de perito avaliador – Parte II

Saindo da cidade, seguimos em direção à área rural. A chuva aumentava e o cuidado ao dirigir também. Eu e Fernando conversávamos sobre os dois imóveis visitados, as características dos terrenos, já vislumbrando uma forma de dar continuidade àquele trabalho e, ao mesmo tempo, na expectativa de chegarmos aos imóveis rurais.

Sentia a ansiedade no olhar do meu amigo, a curiosidade, pois para ele a avaliação rural era algo novo. E, para o nosso trabalho de vistoria ficar mais com ‘cara’ de aventura, a chuva caía cada vez com mais força. Ficamos atentos à estrada, pois o fluxo de veículos era intenso.

Pouco antes de chegarmos ao acesso à zona rural, avistamos Dr. Rodolfo e os herdeiros, que nos aguardavam. A chuva não dava trégua. Guiamos mais um pouco e alcançamos a estrada de terra. Enfim, chegamos aos sítios da família.

Eram cinco áreas a serem vistoriadas, todas próximas umas das outras. Descemos do carro com cuidado, pois havia bastante barro. Portávamos guarda-chuvas, cadernos para anotação, celulares para as fotos, etc. e ainda precisávamos manter o equilíbrio e a postura profissional. Os herdeiros sem demora começaram a nos mostrar as divisas das terras e outros detalhes, e nós atentos a tudo.

Ao mesmo tempo, Fernando me fazia várias perguntas e eu procurava direcionar seus questionamentos e explicar tudo da melhor forma. Observei que, embora ele nunca tenha feito avaliação rural, é bastante observador, por isso, logo ‘pegou o jeito’ do trabalho.

A chuva deu uma trégua e conseguimos fechar os guarda-chuvas. Deixamos os carros na sede de uma das propriedades e percorremos os campos a pé. Foram pelo menos duas horas de caminhada. Conhecemos as cinco áreas, as quais abrigavam casas bem antigas, algumas de alvenaria imponentes, outras de madeira mais simples. Cada lugar continha sua própria história. Uma verdadeira imersão em um passado que estava ali, cravado na memória dos herdeiros.

E, assim como ocorreu na visita aos imóveis urbanos, ali também os herdeiros faziam questão de nos contar suas memórias dos encontros familiares, das festas, da convivência diária. Lembranças que muitas vezes os faziam derramar lágrimas de saudade.

A cada passo, a cada detalhe, eles se recordavam de algum fato. Até as árvores eram reconhecidas e os faziam lembrar dos tempos de infância, quando brincavam naqueles espaços onde hoje o mato toma conta, onde a maioria das casas encontra-se em ruínas.

A nós cabia seguir nosso trabalho, anotando e fotografando tudo. Vistoria feita e mais uma história que não se perderá no tempo. Sabemos que nós, Peritos Avaliadores, temos a competência técnica para realizar as avaliações imobiliárias, mas além desse conhecimento é necessário termos a sensibilidade para entender cada detalhe.

Eu e Fernando nos despedimos e retornamos. Naquele momento, a chuva havia parado e um arco-íris apareceu no horizonte. Partimos dali satisfeitos, com a certeza de termos feito um bom trabalho. E eu mais uma vez convencida de que estou na profissão certa. É sempre assim: a cada novo trabalho, o coração acelera, a adrenalina aumenta, fico na expectativa para saber quem será o próximo cliente e qual imóvel irei avaliar.

Silmara Gottardi

5 comentários em “Um passado cravado na memória –  vida de perito avaliador – Parte II

  1. É Hermana, qdo o trabalho é feito com amor a profissão e ética admirável. Tudo se torna lindo, e nesta avaliação vc não foi somente perita. E gratificante ser psicóloga ( ouvinte) e não tem nada melhor do que ouvir essas histórias. Hilariante… tantas histórias contidas numa avaliação . Parabéns. Que Deus sempre ilumine teus caminhos. E sorte é de quem cruzar por vc. Bjs maninha. 🤩🤩🤩🤩

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  2. Bom dia professora Silmara.
    Que bom ler suas narrativas, parasse sonhos, de um passado distante.
    Sou um grande admirador de você, parabéns, sempre um Show, sus descrições.
    Abraços !!!!!!
    MARQUES.

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