Um dia meio atropelado na avaliação de imóveis

Certo dia, recebi ligação de uma cliente. Ela precisava do meu serviço como assistente técnica. Atendi-a com animação, acertamos valores, expliquei o procedimento do trabalho e fiquei aguardando a data da vistoria do imóvel para acompanhar o Perito do juízo. Algumas semanas depois, fui avisada da data e hora da vistoria.

No dia agendado, dirigi-me ao local do imóvel. Era uma tarde de sol e calor. O céu estava azul, quase sem nuvens, um dia lindo! Chegando lá, me apresentei ao advogado de uma das partes. Logo, chegaram o advogado da outra parte e o outro Perito assistente. Ficamos por um bom tempo aguardando o Perito do juízo.

Para aproveitar o tempo, conversamos sobre o imóvel e eu já fui fazendo algumas fotos. O terreno era amplo, cercado por telas altas e com arame farpado na parte de cima. No seu interior, havia gado no pasto, além de porcos, galinhas, gansos e patos. Achei aquilo algo bem peculiar, pois se tratava de um terreno urbano. Fiz as fotos, como de costume, seguindo uma ordem e depois voltei a conversar com os advogados e com o assistente técnico.

Enfim, o Perito do juízo chegou – era um rapaz jovem. Pediu desculpas pelo atraso, disse que estava “meio atropelado” naquele dia, mas que pretendia entrar no terreno para fotografar. Um dos advogados ponderou que aquela não era uma boa ideia. Havia gado no local, poderia ser perigoso e bastava fazer fotos pelo lado de fora. Mas o rapaz insistiu; e ninguém tinha a chave do portão – até porque não era mesmo aconselhável entrar.

O Perito disse que estava acostumado com estas situações de ter que pular muros e cercas para entrar em imóveis para fotografar. Além disso, como os bois estavam no fundo do terreno, ele garantiu que tudo ficaria sob controle. O jovem Perito não quis nos ouvir, era nítida sua inexperiência; nascido e criado na cidade, não tinha conhecimento algum sobre animais.

E lá foi ele subir na cerca, com certa dificuldade, pois era bem alta. O rapaz usava calça jeans, camisa e sapato social, ou seja, roupas e calçado nada adequados para aquela ‘empreitada’. Levava ainda prancheta, caneta e estava com óculos de sol. Demorou até pegar o jeito e chegar ao topo da cerca. Até ali tudo correu bem, ele estava sorridente, olhando para nós com ar de “viu como é tranquilo”?

Mas, no momento em que ele pulou para dentro do terreno, algo assustador aconteceu: os bois que estavam do outro lado sentiram o perigo e correram em disparada na sua direção. Nós ali do lado de fora sem poder ajudar só conseguíamos implorar para que pulasse de volta. O rapaz, contudo, parecia um pouco perdido, ainda achando que estava tudo bem.

Porém, quando percebeu que os bois vinham para cima dele, diferentemente de quando entrou, com todo cuidado e calma, num segundo se pendurou na cerca e pulou de volta. Só vimos a prancheta voar para um lado, a caneta para outro, os óculos de sol foram parar longe e o pobre perito se estatelou no chão. Enquanto isso, os bois bufavam na beira da cerca.

Naquele momento, senti um misto de preocupação em ver se o Perito estava bem, com vontade de dizer: “nós avisamos”, e uma tremenda vontade de dar gargalhadas, porque a cena toda foi muito engraçada, apesar do perigo. Eu olhei para os advogados e todos estavam com vontade de rir do inexperiente e inocente rapaz. Porém, ficamos preocupados, pois o tombo foi feio. Ele se levantou, foi juntando caneta, prancheta e óculos – ou o que sobrou – e disfarçadamente disse que estava tudo bem, que não tinha se machucado. E finalmente se conformou em fazer as fotos do lado de fora do terreno.

Nós Peritos precisamos estar preparados para qualquer eventualidade e mudar nossa postura dependendo da situação. Ouvir os mais experientes pode nos ajudar a não cometer erros ou nos envolvermos em situações de perigo.

Certamente, aquele Perito pensará duas vezes antes de pular outra cerca com animais dentro do terreno. Ele aprendeu a lição de uma forma arriscada, mas aprendeu. Esteja atento e seja humilde para ouvir os mais velhos na profissão, isso pode fazer toda diferença na sua vida.

Silmara Gottardi

4 comentários em “Um dia meio atropelado na avaliação de imóveis

  1. Silmara,
    Leio suas postagens e me vejo vivendo algumas das experiencias narradas.
    Concordo que nosso maior erro é não ouvir os mais experientes e acredito que todos nós já cometemos este erro algum dia.
    Um abraço e continue compartilhando conosco suas experiencias.
    Gustavo Labares

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  2. Ah, que delícia de história! Tomara que toda imprudência pudesse acabar assim, com uma lição para a vida toda. Respeitar a experiência sem exibir a destreza seria o certo. Apesar de que a sua juventude e agilidade o ajudaram a escapar mais rápido.

    Curtido por 1 pessoa

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