
Como de costume, entre um telefonema e outro, documentos para analisar, pesquisas de mercado, processos para estudar, clientes para atender, o dia ia terminando sem que eu nem percebesse. Se a vida de corretor de imóveis não tem uma rotina, imagine então a de quem trabalha com avaliações de imóveis.
Já estava quase de saída, quando, de repente, alguém me liga para pedir um orçamento para uma nomeação em um processo judicial. Foi assim que surgiu mais um trabalho: avaliar um apartamento num bairro central da cidade. Fiz o orçamento, todo o procedimento normal e, depois da aprovação, a vistoria foi agendada.
No dia marcado, lá fui eu para mais uma vistoria; cheguei ao local e logo o cliente também chegou. Era uma linda manhã de sol quente, um dia bonito.
Nas avaliações, sempre existe aquela expectativa de como será o trabalho, o imóvel a ser fotografado, as informações necessárias que devem ser anotadas para fazer o laudo. O que eu não imaginava era a situação em que estaria aquele imóvel, na realidade o prédio todo.
Eu tinha informação de que o apartamento ficava em um prédio inacabado, abandonado há alguns anos. Mas foi surpreendente, e de certa forma triste, ver as condições daquele lugar. Fazia um contraste com a região, pois as ruas eram asfaltadas; os prédios bonitos, alguns novos e modernos; havia lindos ipês amarelos, com suas flores caídas na calçada; o prédio inacabado destoava totalmente do lugar.
Além de ver a situação deplorável daquela edificação, eu senti nos olhos do meu cliente a dor de ver seu sonho destruído. Fiquei imaginado como estariam os demais proprietários, pessoas que investiram ali seu sonho, talvez uma vida de economias, talvez um planejamento de anos para comprar seu lar e, de repente, depararem-se com algo que não chegou a se concretizar.
Mas, ao mesmo tempo, embora com sentimento de compaixão, eu tive que manter o foco no meu trabalho, que era fotografar, analisar toda região e fazer as minhas considerações. Afinal, eu fui contratada para avaliar o imóvel na situação que se encontrava.
O cliente conversava pouco, somente narrava algumas histórias da época da construção, mas nada de muitos detalhes, era visível sua tristeza. Acredito que para ele era muito difícil estar ali. Por isso, mantive o silêncio e me reportava a ele somente para pedir informações necessárias.
E assim é o trabalho do Perito, envolve muita frieza, perspicácia, olhar clínico, cuidado nos detalhes, imparcialidade, e também sensibilidade, respeito para com o cliente, acima de tudo respeito com a dor do cliente. Enfim, colocar-se no lugar do outro pode fazer a diferença durante uma vistoria.
Silmara Gottardi
Tenho um amigo que passou por uma situação parecida com a do seu cliente.
Vendeu seu imóvel e deu de entrada todo o valor, algo em torno de R$300.000,00 para comprar um imóvel na planta, de uma grande construtora de Bhte/MG. Num bairro de classe média à alta.
Na época, toda expectativa da construção ficar pronta logo. Acompanhou a pouco evolução da obra. Meses depois a construtora decretou falência.
Até hoje não conseguiu rever seu dinheiro. Um processo que já se arrasta ha quase 10 anos.
Muito triste esta situação.
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