O Prédio tombado – um século de histórias e surpresas

Eu estava no escritório trabalhando, organizando a mesa, respondendo a alguns e-mails, lendo processos, quando de repente meu celular tocou. Era um advogado conhecido, que queria me ‘passar’ um serviço: a avaliação de um imóvel. De imediato, respondi que sim. Porém, no decorrer da conversa, surpreendi-me ao descobrir que não se tratava de um imóvel comum, mas de um prédio de 10 pavimentos, com uma metragem bem significativa.

Esta é uma das vantagens de se trabalhar com avaliação de imóveis, nada é igual! A cada serviço, descortina-se um novo desafio. Isso torna o perito um estudioso, um eterno aprendiz, sempre em busca do conhecimento.

Aceitei aquele trabalho, mesmo sabendo da grande responsabilidade. Falei com as partes do processo, agendei a vistoria e, já com documentos em mãos, busquei o máximo de informações sobre o imóvel. No dia e horário marcados, eu estava no imóvel, onde também estavam os responsáveis de ambas as partes.

Vistoria em prédio comercial é algo tenso; é preciso estar atento a todos os detalhes e ainda tomar cuidado para não expor os funcionários. Olhei para aquela edificação enorme, não somente em altura, mas em estrutura e imponência, fiquei de fato impressionada.

O imóvel era tombado, um edifício com uma fachada antiga muito bonita. Na parte interna, havia lustres belíssimos, colunas imensas – coisa de cinema –, paredes ornamentadas, algumas partes esculpidas, enfim, tudo muito lindo e bem cuidado.

Para seguir a ordem, comecei fotografando a partir do 10º pavimento e anotando tudo que podia. O funcionário que me acompanhava ia me falando sobre o funcionamento e os demais detalhes. Descemos cada andar pela escada, já que pelo elevador seria mais demorado. A cada andar, eu fotografava salas, espaços, banheiros e anotava os detalhes. Assim fomos descendo até o térreo e depois ao subsolo, com garagens e depósito.

Tive que ter todo cuidado, pois havia muitos funcionários no local. Eu precisava interromper o trabalho deles a todo momento, pedir para que mudassem de lugar para eu poder fotografar. Além disso, tinha que ter atenção redobrada para não esquecer de retratar alguma parte importante e anotar de forma correta como era o imóvel, afinal qualquer informação não anotada ou anotada de forma errada pode atrapalhar na hora de construir o laudo.

Depois, fomos para a área externa. Essa parte foi a mais complicada, pois a rua era bastante movimentada por pedestres. Assim, posicionei-me para tirar fotos da fachada e depois da rua. O trabalho foi demorado, é preciso ter discrição para não constranger as pessoas.

Despedi-me dos profissionais que me acompanharam e caminhei um bom tempo pensando em como faria aquela avaliação. Como conseguiria as amostras? Como faria os cálculos? Ia pensando e me lembrando dos detalhes daquelas paredes e colunas. Era um lugar antigo e bonito, sinal de capricho, cuidado.

Mesmo no decorrer de um século, o imóvel estava em perfeitas condições de uso. Para produzir o laudo, estudei sobre o prédio e descobri muitas histórias antigas, uma verdadeira aula sobre um passado com muitas surpresas.

Essa é a vida do Perito avaliador de imóveis. Um dia num imóvel novo, outro numa mansão, num pequeno terreno, numa fazenda, outro dia num prédio e outro ainda sabe-se lá onde?! Mas de uma coisa eu sei: estarei sempre em busca do melhor trabalho e o melhor trabalho é aquele feito com amor, dedicação e cuidado.

Silmara Gottardi

4 comentários em “O Prédio tombado – um século de histórias e surpresas

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