
Trabalhar com avaliações imobiliárias traz muitos encantos, aprendizado, emoções e nos faz viver com certa adrenalina, por abranger uma área de atuação diversificada, que envolve lugares, situações, pessoas e imóveis diferentes. Isso também nos motiva a estarmos sempre alertas às possibilidades e atentos para correr atrás da informação.
Ou seja, estamos continuamente nos desafiando. Um desses desafios é perseverar no caminho da ética independentemente das circunstâncias, das propostas e principalmente de quem nos contrata.
Muitas vezes é difícil mantermos a nossa essência e não sermos indelicados quando nos deparamos com situações indesejáveis, ainda mais quando envolvem amizades. É uma história assim que hoje vou dividir com vocês.
Durante três meses, uma amiga vinha insistindo em solicitar meus serviços para uma avaliação. Porém, como eu desconfiava que ela já tinha um valor em mente e que provavelmente nada mudaria sua opinião, passei a me esquivar.
A todo momento, ela voltava a me procurar para que eu fizesse a avaliação do seu imóvel, mas eu não aceitava. E assim o tempo passou.
Um belo dia, ela me pediu:
— Então me indique alguém!!
Argumentei que seria melhor eu não me envolver. Mas, diante da sua insistência, eu disse que indicaria alguém, desde que ela não ficasse tentando influenciar a pessoa.
E alertei:
— Eu só indico profissionais que trabalham dentro da ética, seguindo o valor real do imóvel e não o que é imposto pelos proprietários.
Ela aceitou.
Enfim, chegou o dia da vistoria. O corretor foi até o imóvel, fotografou, anotou a descrição, analisou todos os detalhes para poder dar continuidade ao seu trabalho. Era uma casa ampla, com cômodos espaçosos, uma construção antiga, mas bem cuidada. O quintal tinha um gramado bonito, algumas árvores frutíferas, também havia uma garagem ampla e coberta.
Depois de alguns dias, o corretor entregou o laudo de avaliação. Foi aí que a situação se complicou: minha amiga não concordou de forma alguma com o valor do seu imóvel. Como pensei, ela tinha um valor em mente e não aceitou que aquela avaliação estivesse correta; mesmo sendo feita por um profissional capacitado e com todas as pesquisas, cálculos e fundamentos apontados.
E o pior ainda estava por vir: ela exigiu que o laudo fosse alterado!
— Eu ‘preciso’ apresentar um valor acima do de mercado para uma negociação que irá me beneficiar.
Mas obviamente o corretor não alterou o valor. Esta é uma situação delicada e de certa forma triste. Alguns clientes não têm escrúpulos e não respeitam nosso trabalho. Para esses, desde que a situação os favoreça, está tudo bem. E quando envolve amizade, tudo se torna ainda mais difícil.
Enfim, nós temos a livre escolha, mas deixo aqui alguns questionamentos. Eu faço um serviço para agradar e favorecer alguém ou faço um trabalho com dignidade? O que eu quero para minha vida? Receber dinheiro fácil ou viver de cabeça erguida?
E você, já passou por uma situação assim?
Silmara Gottardi