
Eu sempre defendi o trabalho em parceria, porque acredito que nos ajudamos e aprendemos muito mais. E num desses trabalhos em parceria, tive uma experiência de vistoria bem diferente. Uma colega de profissão foi nomeada para avaliar uma chácara no litoral do Estado. Agendamos a vistoria e no dia marcado pegamos a estrada.
Naquele dia, o clima estava um pouco frio, mas ensolarado; na estrada, havia bastante movimento principalmente de caminhões. Era uma mistura de prazer por mais um dia de trabalho e atenção ao dirigir na rodovia, pois na serra sempre é muito perigoso.
Depois de quase duas horas, chegamos à chácara. O acesso era bom, a mata fechada por todos os lados trazia um ar puro, um lugar bonito, com uma vista exuberante. Já estavam nos aguardando. Coletamos informações, tiramos fotos, observamos cada detalhe do imóvel; ali começava mais um trabalho.
O casal que nos atendeu era muito simpático, acolheu-nos com carinho e respeito e a senhora nos convidou para tomar um café. Olhei para minha colega, a qual fez um sinal com a cabeça dizendo que sim. Tínhamos um bom trecho para voltar para casa, mas um café não iria atrasar nosso retorno.
Entramos na casa. Era de madeira, casa antiga, com área suspensa, cerca de mata-junta trançada. Aquele lugar me trouxe lembranças do tempo de criança, da casa dos meus avós e dos meus pais, uma linda recordação. Chegando na cozinha, deparei-me com o fogão a lenha. Tudo simples, limpo e arrumado. A mulher fez o café rapidamente, pois a água já estava quente na chaleira sobre o fogão. Não bastasse o café, ela fez pão na chapa do fogão – muito bom. O gosto daquele café e daquele pão na chapa eram o ‘gosto’ da minha infância, lembranças que o tempo nunca vai apagar.
Talvez por isso o trabalho das avaliações de imóveis seja tão extraordinário. Porque sempre há uma surpresa, uma recordação em cada vistoria. Você nunca sabe quem vai encontrar e como será o seu dia. Ali naquele lugar simples, mas com zelo, com um olhar de alegria e carinho aquele casal nos recebeu.
Ao sair, agradecemos imensamente pelo café e o pão, despedimo-nos e andamos ainda ali por perto para coletar amostras e conhecer um pouco mais a região. Depois, voltando para casa, enfrentamos um engarrafamento na rodovia devido a um acidente; foram duas horas que ficamos ali paradas, mas isso são imprevistos do nosso dia a dia. Estamos sujeitos a incertezas.
Na semana seguinte, estive com a minha colega para finalizarmos o laudo. Acabamos nos recordando do dia da vistoria, rimos e nos emocionamos com as lembranças. E finalmente, depois de alguns dias, o laudo ficou pronto para peticionar nos autos. Mais um trabalho pronto e a sensação do dever cumprido.
Silmara Gottardi