Um dia no museu – uma vistoria incomum

Eu e Luca estávamos no escritório, em um dia qualquer da semana, terminando um laudo, quando uma colega de trabalho nos ligou. Ela precisava de ajuda para avaliar um lugar bastante incomum: um museu. Apesar da surpresa inicial, confirmamos que faríamos o trabalho.

Ela nos encaminhou todos os dados necessários para fazer o orçamento. Juntamos matrícula e demais informações e elaboramos nossos honorários. Orçamento entregue e no dia seguinte o cliente nos avisou que havia sido aprovado.

Então, agendamos a vistoria no museu, que ficava em outra cidade. No dia marcado, chovia bastante, um verdadeiro dilúvio. Mesmo assim, pegamos a estrada. Luca dirigia com atenção e cuidado. Ora falávamos sobre o trabalho ora o silêncio reinava. A rodovia estava movimentada: caminhões, carros, e a chuva que não dava trégua. Depois de algumas horas e da tensão, chegamos à cidade.

O cliente nos aguardava enquanto o dia parecia noite. Começamos nosso trabalho fazendo fotos externas. Luca equilibrava o guarda-chuva e a máquina fotográfica e eu anotava tudo o que ele fotografava. O cuidado era maior com a câmera e com os papéis do que conosco, não havia como nos proteger da chuva. Além disso, os carros passavam e inadvertidamente nos molhavam. Um trabalho nessas circunstâncias requer o dobro de atenção.

O terreno do imóvel estava encharcado e embarrado, e nós tivemos que tomar cuidado para não escorregar. Ao entrarmos no museu, imediatamente Luca começou a fotografar, mas eu senti um impacto seguido de tristeza ao me deparar com tantas obras lindas, peças raras e preciosas em meio ao descuido e ao esquecimento. O piso de madeira estava em condições precárias; a cada passo, vinha o temor de que tudo fosse desabar. Havia goteiras em todos os lugares e a poeira tomava conta das obras de arte e dos móveis.

Pensei tristemente que estávamos diante de uma história que deveria ter sido tão linda no passado, mas que o descaso relegou ao abandono. Sabia que nosso trabalho naquele momento era fotografar e avaliar o local, mas fiquei tocada com aquela imagem. Me deu um aperto no coração ver tudo destruído, peças de valor imensuráveis, uma história que provavelmente não verá a página seguinte.

Saímos de lá com certa tensão, afinal era um serviço complexo. Mas no decorrer dos dias, fomos trabalhando e conseguimos chegar ao valor real. Vida de perito avaliador não é tão complicada, mas é preciso saber a medida certa entre a frieza da avaliação e a sensibilidade de entender e respeitar o que se está avaliando. Mais um motivo que torna esse trabalho tão incrível!

Silmara Gottardi

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