
Mesmo diante de tanta beleza e tranquilidade, durante a vistoria na chácara, mantive minha postura profissional de sempre. Continuei fazendo as fotos, anotava os detalhes importantes, enquanto caminhávamos por todo o terreno.
Chegamos na parte das edificações. Primeiro, Sr. Antônio me levou à casa principal da família. Enquanto eu fotografava, ele ia me contando sobre a convivência familiar:
— Antigamente aqui era comum nos reunirmos com a família nos fins de semana e feriados, ou durante as festas. Meus pais sempre gostaram ‘de casa cheia’.
Era uma casa de alvenaria feita de tijolos à vista, ou seja, sem reboco. O piso era feito com um tipo de pedra, já a escada para o segundo pavimento era em madeira. Na parte térrea, havia uma cozinha. Sr. Antônio relatou:
— Aqui nessa cozinha eram servidos pratos maravilhosos, feitos naquele fogão à lenha.
Na sala, repousavam amplos sofás e móveis antigos de muita qualidade. Passamos por dois quartos e um espaço bonito avarandado, onde havia um forno de barro e uma churrasqueira. Sr. Antônio recordava:
— Aqui também é um lugar muito especial nas minhas lembranças de família.
Já no segundo pavimento chegamos em um ambiente que de imediato me remeteu a uma sala de jogos. Próximo dali havia mais um quarto grande onde da janela se via uma imensa piscina nos fundos da chácara e uma bela vista, por sinal.
Depois descemos e caminhamos em direção à piscina, que estava um pouco abandonada, como era de se esperar, afinal a frequência da sua utilização havia diminuído bastante com o tempo.
Ainda nos deparamos com um depósito, a garagem e uma casa de caseiro. Tudo era rústico, bonito, combinando com a natureza ao redor. Pude observar dois campos de futebol e muito espaço com gramado.
De repente, Sr. Antônio se virou para mim, naquele momento já com muita emoção, pois ele narrava uma parte da sua vida ali com os familiares e amigos. Então, olhou bem para mim e disse:
— Agora quero lhe mostrar o diferencial desta chácara. É o xodó de todos nós.
Eu fiquei curiosa, porque já tinha visto tanta coisa linda naquele lugar, o que mais poderia ser tão especial?
Fomos caminhando lentamente, estávamos ofegantes, porque o calor era intenso e já havíamos percorrido praticamente toda área do imóvel.
Foi então que eu não pude deixar de observar, pois era de uma exuberância imensurável. Sr. Antônio nem precisou me dizer nada, somente perguntou:
— O que achou?
Por alguns segundos, esqueci que estava ali profissionalmente, que minha presença naquele lugar tinha um propósito: avaliar o imóvel e chegar no seu valor real, e que estava coletando informações para produzir o laudo. Respondi admirada:
— Espetacular!
Essa foi a única palavra que me veio à mente.
Eu estava diante de uma Castanheira Portuguesa. Árvore frondosa, imponente, de uma beleza incrível. Fiquei observando e pensando: “a natureza nos proporciona emoções sensacionais”.
Sr. Antônio comentou:
— Esta árvore representa muito para a nossa família, ela está aqui há muitas décadas. É nossa árvore especial!
Eu pedi licença a ele e me adentrei pelos galhos enormes, e era como se a Castanheira estivesse me abraçando, foi como uma acolhida.
A vida do Perito avaliador é assim, cheia de surpresas e emoções. Momentos especiais e que nos fazem seres humanos melhores.
A experiência que eu vivi pode ser a experiência de muitos Peritos. Nós Peritos não somos frios, nós somos e vivemos a avaliação imobiliária!
Eu e o Sr. Antônio voltamos para perto dos carros, nos despedimos e fomos embora. Depois de uma vistoria cheia de histórias, eu percebo que nossa profissão é linda e o quanto sou feliz!
Até a próxima!
Silmara Gottardi
Silmara, querida, você além de ser uma excelente profisional e também uma escritora, excelente narrativa, parabéns!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Muito obrigada pelo carinho, Rosa! Um grande abraço!
CurtirCurtir
Bela narrativa!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Muito obrigada!
CurtirCurtir