
“Ó rei, eu dou tudo isso a ti”. E acrescentou: “Que o Senhor teu Deus aceite a tua oferta”. Mas o rei respondeu a Araúna: “Não! Faço questão de pagar o preço justo. Não oferecerei ao Senhor meu Deus holocaustos que não me custem nada“. Davi comprou, pois, a eira e os bois por cinquenta peças de prata. – 2 Samuel 24:23 e 24 (Bíblia Nova Versão Internacional)
Quando comecei a trabalhar com as avaliações imobiliárias desejava que um cliente rico com vários imóveis aparecesse e me contratasse para fazer o laudo. Pensava que um cliente rico seria generoso para com os honorários solicitados. O tempo passou e me mostrou o quanto eu estava equivocado. Em geral, aqueles que possuem melhores condições financeiras são os que mais desvalorizam o serviço. É claro que existem pessoas ricas generosas, mas isso não é uma regra – e longe de mim querer estabelecer qualquer preconceito de classe social, pois existem pessoas com poucos recursos que também desvalorizam o serviço alheio.
Continuando meu raciocínio, surpreendentemente, os clientes mais generosos e honestos que eu tive até hoje foram aqueles que, embora tivessem poucas condições econômicas, sequer pediram desconto ou falaram algo do tipo: “Puxa! Tudo isso por uma avaliação?!”.
O texto bíblico apresentado em epígrafe (II Samuel 24:23-24) tem um contexto muito interessante. O rei Davi precisava de um local para poder construir um altar e oferecer sacrifícios ao seu Deus para que uma peste parasse de matar seu povo. O local, denominado ‘eira’, já estava determinado por um de seus conselheiros.
O monarca chegou até a eira e falou ao proprietário, que se chamava Araúna, sobre seu interesse em comprá-la. Se fosse uma negociação ‘normal’, Araúna talvez tivesse ficado à vontade. Mas não! Tratava-se de ninguém menos que o rei Davi! Um rei cuja história era conhecida de seu povo, bem como, das nações vizinhas. E esse rei em pessoa estava falando com Araúna sobre a compra daquela propriedade.
Ainda que não fosse a intenção do rei Davi, certamente o dono da eira sentiu-se intimidado tanto pela pessoa que lhe procurara quanto pela circunstância que envolvia a compra de seu imóvel: uma peste! Naquela situação, Araúna fez aquilo que um súdito leal ou alguém com medo faria: ofereceu de maneira gratuita sua propriedade ao rei.
Chegamos aqui ao clímax da história. O monarca NÃO ACEITOU a proposta de adquirir a eira de graça. Antes, não somente recusou como afirmou que fazia questão de PAGAR O PREÇO JUSTO. Cabe ressaltar que Davi era um REI, isto é, ele tinha poder para tomar aquela terra se quisesse, ou ainda, por formalidade, agradecer a possível doação de Araúna. Mas ele não se valeu de sua autoridade. Repetindo: fez questão de pagar o preço justo!
A narrativa bíblica conclui que o negócio se efetivou depois do pagamento de 50 siclos de prata, o que corresponde a 571 gramas de prata.
Independentemente de nossa crença ou não na história bíblica, é interessante analisarmos essa história pela perspectiva histórica e perceber que pessoas com caráter, seja de que classe social for, sempre estarão dispostas a pagar o preço justo. E neste caso a recíproca também é verdadeira. Nós, enquanto profissionais, devemos estabelecer um preço justo nas avaliações de imóveis, seja qual for a disponibilidade de recursos do cliente. Pense nisso!
Filipe Pêgo Camargos
Professor, Historiador e Perito Avaliador Imobiliário
Caro Professor, Historiador e Perito Avaliador Imobiliário, bela e criativa história!
No entanto, na prática, desculpe-me por discordar de parte de seu texto, in fine, “Nós, enquanto profissionais, devemos estabelecer um preço justo nas avaliações de imóveis, seja qual for a disponibilidade de recursos do cliente. Pense nisso!”, por razões que considero importantes e de que não há dentre os profissionais Avaliadores Imobiliários o empenho e a vontade forte de valorizar a profissão fazendo “leilão” de precificação para a execução destes serviços numa “disputa” desleal ( muito diferentes de livre concorrência), pois estes deveriam no mínimo seguir a sugestão das Entidades Representativas dos profissionais devidamente credenciados para formação de valores para as contratações.
Para corroborar com meus argumentos cito o fato de haver “perdido” a prestação de dois serviços de avaliação imobiliária, para os quais apresentei orçamentos no valor de R$ 3.150,00 para cada um e fui “vencido” por orçamentos nos valores de R$ 250,00 e de R$ 700,00, por cujos valores eu não desperdiçaria meu precioso tempo.
Um cordial abraço e sucesso!
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Obrigada pela contribuição, Sr. Valdir. Eu conversei com o Filipe sobre esse texto que ele escreveu. E a nossa intenção é justamente conscientizar os avaliadores, para que cobrem um preço justo, real, e se valorizem! Infelizmente temos dentro do mercado imobiliário alguns que “brincam” de ser profissionais e outros que mentem e enganam os novatos, oferecendo laudos prontos por um valor absurdamente baratos. Para combater esse tipo de profissional só fazendo um trabalho de conscientização, no meu Canal do YouTube tenho feito apelos para os corretores se valorizarem, pois cobrar um valor de 100, 200, 300 numa avaliação é o mesmo que jogar seu diploma no lixo.
Um abraço e desejo que os clientes reconheçam o seu valor, mesmo que a longo prazo!
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Preço justo!!!
👏👏👏🤝🤝🤝🙏
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Colocação perfeita, parabéns.
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